Texto Peter Hossli Fotografias Stefan Falke
NOVA POBREZA
Como abrigo, uma tenda. Os EUA atravessam uma das maiores crises do mercado imobiliário e este campo de tendas, em Ontario, um subúrbio de Los Angeles, Califórnia, é a prova disso. David James, 52 anos, é um dos 200 sem-abrigo que vivem nesta tendopólis, conhecida ofi cialmente por «Campo Esperança». As últimas moedas que David tinha, gastou-as no bilhete de autocarro para aqui chegar. Trabalhava na Carolina do Norte, partiu uma perna e, de repente, viu-se com 40 mil dólares para cobrir as despesas médicas. Recebe 162 dólares (110 euros) mensais em alimentos mas não tem onde cozinhá-los. Aqui, o que falta não é comida – distribuída por organizações ligadas a igrejas – mas sim abrigo e trabalho.
AMOR QUE CURA
Estar doente, em acampamentos como este, é difícil. Yolanda Truglias, 50 anos, tem diabetes, o que difi culta a cicatrização de uma ferida no pé. O chão de terra e a pouca higiene não ajudam. O namorado, David McIlmoil, 38 anos, soldado na primeira Guerra do Golfo, beija-a em frente da barraca onde vivem, antes de a levar ao «hospital» mais próximo, uma tenda de voluntários, montada ali ao lado.
VIDA DE CÃO
Os animais vão tendo alguns privilégios: a lona dos tectos dá lugar à madeira. O campo chegou a integrar mais de 600 pessoas, mas as autoridades locais decidiram que só podiam fi car as da região. Hoje vivem aqui duzenta.
CAIXOTE MÁGICO
Imelda Caluag, 40 anos, era agente imobiliária. Ganhava a vida a vender roulottes, a uma média de seis por mês. Começaram por lhe faltar os clientes, porque os bancos deixaram de emprestar dinheiro. Depois foi ela própria quem deixou de ter dinheiro para pagar a sua roulotte. Vive nesta tenda, oferecida pelos amigos, desde Janeiro. Quando sai tem de esconder a televisão.
VIVENDO E LUTANDO
Depois de ter passado pela cadeia 24 vezes, David Busch, 53 anos, continua preso, mas à pobreza. Escreve para revistas dos sem-abrigo e organiza manifestações de protesto.
UM NOVO CAMPO
«Campo Esperança» vai renascer com mais condições, no terreno ao lado, com uma área igual à de um campo de futebol. As autoridades locais resolveram introduzir ordem no caos. O verde e o branco são as cores das novas tendas, agora alinhadas em vez de amontoadas, com capacidade para 149 pessoas. Já há segurança (vedação, câmaras de vigilância, vigilantes), casas de banho e duches. E regras: recolher obrigatório entre as 10 da noite e as 6 da manhã, animais proibidos e a necessidade de provar que se é de Ontario.
SONHO DE SAÍDA
Ling brinca com o papagaio por ele construído. Ele é o artista do campo. Nasceu no fi nal da pista do aeroporto de Ontario.