Entrevista: Peter Hossli Fotagrafia: Charly Kurz
Foi a ganância que o motivou?
Dennis Kozlowski: Ganância é uma palavra muito feia. Para mim, os incentivos e a capacidade de fazer bem as coisas são duas fontes de motivação. Mas se a sua definição de ganância for sinónimo de compensação e de ganhar mais quando a empresa está no bom caminho, então, isso é positivo.
Quem leva 100 milhões de dólares para casa só pode ser uma pessoa muito gananciosa. Considera-se ganancioso?
Kozlowski: Não. Sou uma pessoa generosa. Tento que o meu dia-a-dia e a minha maneira de pensar sejam orientados para uma maior generosidade. Uma pessoa gananciosa acha que tudo é seu. Na Tyco, as compensações eram generosas para toda a gente.
Fez uma declaração em 2001 que acabou por ficar para a história: na Tyco não há benefícios. Mentiu.
Kozlowski: Quando disse isso não havia. Essa lógica só mais tarde entrou no sistema da Tyco. A organização não parava de crescer, as empresas adquiridas tinham esse sistema e a gestão habituou-se a ter benefícios. Não há dúvida de que esta lógica se instalou na cultura da Tyco. Eu próprio tive direito a benefícios.
Tinha direito a pequeno-almoço no seu gabinete, mas isso até faz sentido uma vez que começava a trabalhar às 6 da manhã. Tinha ainda direito a um apartamento em Manhattan recheado de coisas caríssimas como uma cortina de banho que custou 6 mil dólares! Isto vai muito além de um simples “benefício”…
Kozlowski: Ficava no apartamento da Tyco em Manhattan umas 4 ou 5 vezes por mês. A minha mulher e outros familiares nunca lá estiveram. Usava-o para me encontrar com pessoas em Nova Iorque para negociar acordos ou aquisições. Preferia a discrição do apartamento à indiscrição dos gabinetes da empresa.
Além da cortina de banho de 6 mil dólares havia também um chapéu-de-sol de 15 mil dólares. Quem os comprou?
Kozlowski: Uma decoradora de interiores. Não tive nada a ver com o assunto. Além disso, o apartamento também era usado por uma pessoa da Tyco que operava na zona noroeste de Manhattan.
Como se pode contratar uma decoradora que gasta 6 mil dólares numa cortina de banho?
Kozlowski: É terrível, eu sei. E o facto de eu estar preso e a decoradora não angustia-me. Percebo que puxasse pelo preço porque ganhava uma comissão de 10% ou 15% sobre aquilo que fazia. Deve ter pensado que era a melhor maneira de justificar uma viagem a Paris.
Alguma vez usou a tal cortina de banho?
Kozlowski: Não. Estava na casa de banho de apoio à cozinha, que era usada pelo pessoal da limpeza. Só soube da sua existência quando li a história nos jornais. Eu usava a casa-de-banho da suite, cujo duche tinha uma porta envidraçada. E só vi uma fotografia da dita cortina durante o julgamento.
Tem duas filhas. Visitam-no com frequência?
Kozlowski: Sim, visitam-me umas sete a oito vezes por ano
Devem estar revoltadas pelo facto de as ter abandonado. Ser pai é uma responsabilidade para a vida…
Kozlowski: Já são maiores, por isso, sabem cuidar de si. Ambas trabalham. Quem está revoltado sou eu, mas comigo próprio por me ter exposto a uma situação que me podia colocar atrás das grades e longe das minhas filhas. A mais velha casou em Maio e custou-me muito não poder assistir nem levá-la ao altar. Ainda é doloroso pensar nisso.
Conheceu o seu genro antes disso?
Kozlowski: Conheci.
Veio visitá-lo à prisão?
Kozlowski: Não, esteve presente no segundo julgamento. Tive oportunidade de o conhecer antes de vir aqui parar, ou seja, socialmente. É um homem extraordinário.
Tem muito tempo livre… Em que costuma pensar quando se vai deitar?
Kozlowski: Tenho esperança de que algures neste processo de recursos haja um juiz capaz de olhar para este caso de uma forma objectiva e firme. Rezo para que isso aconteça. As pessoas que interpõem um recurso normalmente afirmam-se inocentes. Mas, no meu caso, as actas dos julgamentos estão cheias de provas em como sou inocente.
Arrepende-se de alguma coisa em particular?
Kozlowski: Há um adágio que diz que a única baleia que leva com o arpão é a que vem à superfície. Em suma, não devia ter ambicionado que a empresa crescesse tanto. Devia ter sido mais comedido. Devia ter mantido um ‘low profile’, gerado um retorno justo para os accionistas e sido um CEO mais prosaico. Comecei por fazer um bom trabalho e depois quis fazer ainda melhor. Por isso, não concordo quando falam em recompensas ou compensações. Fui penalizado, isso sim.
Qual foi o seu maior erro?
Kozlowski: Ter comprado obras de arte. Não percebia nada do assunto e queria tornar-me numa pessoa que não sou. Tinha muito que aprender antes de me pôr a comprar obras de arte.
Hoje diz que todas as histórias que lhe trouxeram fama – a fuga ao fisco, a festa na Sardenha ou a cortina de banho – não são da sua responsabilidade. Culpa terceiros pelos seus erros…
Kozlowski: Deixei-me levar pelo trabalho, tinha o tempo todo ocupado e demasiadas coisas para gerir, por isso, comecei a delegar noutras pessoas… Entretanto percebi que não eram as pessoas certas.
O que espera fazer na vida?
Kozlowski: Sair daqui. E espero ainda poder fazer alguma coisa que tenha impacto positivo junto das pessoas.
Tenciona volt ar ao mundo dos negócios?
Kozlowski: Sim, mas como investidor privado… e discreto. Não volto a trabalhar numa empresa cotada em bolsa.
Obrigado por nos ter recebido.
Kozlowski: Obrigado eu. Quando sair terei todo o prazer em almoçar novamente com vocês.
Paga o senhor?
Kozlowski: Sou eu que convido.
Kozlowski levanta-se, limpa silenciosamente a mesa e deita fora as garrafas de água e a caixa de pizza vazia. Depois, dispõe as cadeiras à volta da mesa, no sítio onde estavam inicialmente.
“Adeus, Sr. Kozlowski”.
Kozlowski: “Pode tratar-me por Dennis”.
Percebe-se que para Dennis todos os amigos são poucos.
Tradução de Ana Pina