Trabalho Inacabado

Durante seis anos, o agente do FBI Joe Pistone viveu infiltrado na Máfia de Nova Iorque. Meteu na cadeia 200 criminosos e inspirou o filme “Donnie Brasco” interpretado por Johnny Depp. Vive escondido, com a cabeça a prémio.

Texto Peter Hossli Fotografia Charly Kurz

joe_pistoneO número não está identificado, apenas a palavra “desconhecido” aparece no mostrador. A conversa é breve: um pedido de encontro. “Esteja em Las Vegas daqui a duas semanas,” diz Joe Pistone. “Telefono-lhe às 18h.” Depois desliga. Pistone, de 67 anos, continua escondido. Há cerca de 30 anos infiltrou-se numa das cinco famílias do crime organizado de Nova Iorque, a família Bonanno, como um assaltante de nome Donnie Brasco, por alcunha “o Joalheiro”. Durante seis anos, Pistone viveu entre “gangsters” e assassinos. Quando terminou a missão, tinha recolhido provas suficientes para mandar 200 mafiosos para a cadeia. A sua história foi contada no filme “Donnie Brasco”, em que Johnny Depp interpreta a sua personagem. Recentemente, publicou um livro, “Donnie Brasco: Unfinished Business” (“Donnie Brasco: Um Trabalho Inacabado”), em que faz novas revelações, uma vez que muitos documentos relativos à missão deixaram de estar classificados como secretos.

Duas semanas mais tarde, em Las Vegas, está tudo pronto para a entrevista que irá realizar-se no Bally’s Hotel and Casino. O fotógrafo já em as luzes preparadas. Mas eis que, às quatro da tarde, o telefone toca: “Número privado”. É Pistone. “Está em Vegas?” – pergunta. “Sim, quando posso contar consigo, aqui no Bally’s?”. “Nunca”, responde Pistone. “Esteja no South Point Casino dentro de uma hora.” Desliga.

“O Sout Point é um hotel que fica 30 quilómetros daqui, no meio do deserto,” explica, o motorista de táxi. À hora marcada, Pistone aparece. É um tipo alto, careca e que nunca tira os óculos escuros. Leva-nos para junto da piscina exterior, onde dois tipos fortes se passeiam. Faz-lhes sinal. “São os seus guarda-costas. Duas crianças brincam na água. A entrevista realiza-se ali, a céu aberto, no meio de uma multidão, um lugar onde Pistone se sente seguro.

joe_pistone_peter_hossliQue nome utilizou para se registar neste hotel?
Joe Pistone: Na verdade não estou neste hotel, mas, quando me registo num hotel, faço-o utilizando diferentes nomes, nunca Pistone. Se lhe dissesse, estaria a estragar o meu disfarce.

Esteve infiltrado na Máfia há muitos anos. Por que razão continua a viver sob disfarce?
Pistone: A Máfia pós a minha cabeça a prémio por 500 mil dólares. Nunca foi retirado. Pode ser também que algum “cowboy” me reconheça e pense. “Se eu apanhar o Joe Pistone / Donnie Brasco, sou capaz de ganhar uma boa reputação.”

Quando telefonou a marcar esta entrevista, deixou uma mensagem em que dizia: “Fala Donnie Brasco.” Tem alguma dificuldade em saber quem é, realmente?
Pistone: Não, não tenho. Donnie Brasco é mais facilmente reconhecível do que Joe Pistone. Sei que mais depressa saberia quem era Donnie Brasco do que Joe Pistone. Mas sei que sou Joe Pistone.

Donnie Brasco foi o nome que usou para se infiltrar na Máfia italiana A que se deve a escolha?
Pistone: Donnie Brasco – gostei da forma como soava.

Estamos a encontrar-nos em Las Vegas, uma cidade que tem fama de ser controlada pela Máfia…
Pistone: Já não tem controlo nenhum sobre o jogo, mas está envolvida nos fornecimentos. Nomeadamente no de sabonetes. Faz ideia do gasto que um casino faz em sabonetes? É por aí que eles entram. É possível que também assegurem os serviços de lavandaria. Faz ideia da quantidade de roupa que se suja num casino? E os talheres. E a loiça.

Nenhum outro agente penetrou tão profundamente na Máfia como Joe Plstone. Conseguiu que cerca de 200 criminosos fossem condenados. Como é que chegou a esse ponto?
Pistone: Tive a capacidade de manter o equilíbrio. É preciso ser-se psicologicamente muito resistente. Isso permitiu que me mantivesse concentrado no que estava a fazer e a não desistir.

Por que razão foi escolhido?
Pistone: Tinha acabado de estar um ano e meio a trabalhar sob disfarce. Tinha corrido tudo bem. Sou italiano. Conheço a Máfia. Cresci num velho bairro italiano que era controlado pela Máfia. E conhecia aqueles tipos.

Quando era adolescente, é natural que se tivesse sentido fascinado pelos mafiosos mas, em vez de se juntar a eles, tornou-se polícia. Porque?
Pistone: Nesses bairros, ou nos juntamos à Máfia ou mantemo-nos honestos. Os meus pais certificaram-se de que eu percebia que tornar-me um ‘gangster’ não era o caminho a seguir.

E como é que a Máfia acreditou em si?
Pistone: Porque fui eu próprio. Não fingi ser alguém que não era. Não fingi ser um mafioso típico. E tive imensa paciência. Consegui cativar aqueles tipos, fazê-los acreditar que era Donnie, o ladrão de jóias.

Seja como for, era um polícia. Como é que conseguiu apagar qualquer suspeita?
Pistone: Conhecia bem o meu papel. Era um ladrão de jóias. Percebia de joalharia. Conhecia as pedras preciosas. Entendia o funcionamento dos sistemas de alarme. Sabia como entrar em edifícios. Sabia como abrir cofres. E tinha a capacidade de fazê-los ganhar dinheiro.

Mas não basta entra num bar da Máfia e dizer: “OIá, vou juntar-me a vocês.” Como conseguiu entrar?
Pistone: Com muita paciência. É preciso saber, antes de mais, qual é o nosso alvo e como é que ele funciona. Depois limitei-me a andar por ali, a aparecer em diferentes restaurantes e bares, primeiro em Little Italy, em Mulberry Street e em diferentes partes de Manhattan. Depois em Brooklyn, onde costumam andar aqueles tipos. Fiz-me notado. Até que alguém meteu conversa comigo.

Ofereceu-lhes diamantes?
Pistone: É um processo multo mais lento. É um processo através do qual eles pensam que nos estão a conquistar, quando na realidade somos nós que estamos a conquistá-los. Tive de quebrar as barreiras deles, passo a passo. Certa noite, e ao fim de oito meses a cativar um homem em concreto, mostrei-lhe alguns diamantes e disse: “Olha, tenho aqui estes diamantes. Preciso de x dólares por eles. Achas que consegues vende-los?”

Os diamantes eram verdadeiros?
Pistone: Claro que eram. Eram diamantes confiscados pelo Governo.

Se eles tivessem descoberto quem era, tinham-no matado nesse mesmo Instante. Como é que se vive com esse medo permanente?
Pistone: A fé ajuda. Olhe, toda a gente tem de morrer um dia, não é? Se for essa a hora, não há nada a fazer. Ternos de confiar na fé que ternos de que não vai acontecer naquela altura. Parece complicado, mas na verdade não é. Manter-me vivo é aquilo que faço melhor.

Qual foi o momento mais assustador dos seis anos que viveu infiltrado?
Pistone: Certa vez, estava eu no quarto das traseiras, um tipo disse-me: “Se não nos convenceres de que és mesmo um ladra o de jóias, tiramos-te daqui enrolado num tapete.”

E como é que os convenceu?
Pistone: É tudo uma questão de comunicação. Tive de conseguir safar-me sem transpirar, sem mostrar qualquer sinal de ansiedade ou nervosismo. Se não tivermos essa capacidade e, estamos fritos. Noutra ocasião, um tipo acusou-me de ter roubado à família 250 mil dólares do dinheiro da droga. Fizeram um ‘sit-down’, uma reunião, para determinar se eu teria mesmo roubado. Se ganhamos um ‘sit-down’, somos felicitados. Se perdemos, mal saem da sala, levam-nos a dar uma volta.

Que fez durante o ‘sit-down’?
Pistone: Fiquei por ali, à espera que acabasse. Só isso. Não podia fazer muito mais.

Outros teriam fugido.
Pistone: Eu nunca iria fugir. Nunca perco o controlo. Consigo controlar o ‘stress’ mantendo-me igual a mim próprio. Nunca ingeri drogas. Não sou grande bebedor.

Manteve um apartamento em Manhattan. De vez em quando, ia visitar a família a Nova Jérsia, a sua mulher e as suas três filhas. Foi fácil voltar a ser Joe Plstone?
Pistone: Só vi a minha família de cinco em cinco ou de seis em seis meses, e apenas durante um ou dois dias. Pelo que não foi propriamente regressar. E como nunca deixei de ser quem era, não tive problemas. Os agentes infiltrados metem-se em sarilhos quando mudam de personalidade.

Em que medida é que a sua relação com a família mudo u?
Pistone: Depois de ter estado fora tantos meses, o meu estatuto enquanto chefe de família ficou diminuído. Elas aguentaram tudo sem mimo Apesar de eu ir a casa e de continuar a ser o chefe da família, na prática não o era. Tive de aceitar isso.

Continua casado?
Pistone: Sim.

Como é que conseguiu manter a sua mulher?
Pistone: Não sei [risos]. Uma das razoes por que ficou foi o facto de eu não me ter afastado dela enquanto estive infiltrado. Tínhamos laços fortes e eles não se quebraram enquanto estive fora. Ela sabia que eu acreditava naquilo que estava a fazer.

As suas filhas devem ter-se ressentido multo.
Pistone: Ainda eram pequenas, mas estavam zanga das com o facto de eu nunca estar em casa.

Como é que as protegeu?
Pistone: Mudámo-nos várias vezes, mudámos-lhes os nomes. Continuo mantê-las afastadas de acontecimentos públicos. Lago a seguir ao julgamento, mudei-as cinco vezes para colocar distancia entre o último. lugar ande tínhamos estado e do qual algumas,.. pessoas poderiam ter conhecimento.

Mudou multo ao longo desses seis anos?
Pistone: Não mudei a minha personalidade, mudei apenas de guarda-roupa. Tive de começar a usar bons fatos; a vestir bem, a vestir de acordo com o papel que estava a desempenhar.
Disfarçou-se de ladrão de jóias. Porque não escolheu ser passador de droga ou ladrão de carros?
Pistone: Tinha de escolher uma profissão em que pudesse trabalhar sozinho. A maioria dos ladrões de jóias opera isoladamente. Escolhi uma profissão que não fosse muito violenta. Não seria capaz de andar por aí a cometer crimes violentos. Quando dizemos que somos ladrões de carros, temas de roubar carros todos os dias. Mas um ladrão de jóias pode fazer um só trabalho por mes e ganhar muito dinheiro com isso.

Para a Máfia, ganhar dinheiro é a coisa mais Importante…
Pistone: E por que outra razão estariam lá eles? O dinheiro é tudo. Segundo eles, eu era óptimo a fazer dinheiro. Eu tinha o dom de fazer aparecer diamantes e pedras preciosas. E se eles precisavam de arranjar alguma coisa, se precisavam de entrar nalgum lugar, eu conseguia abrir cadeados, abrir portas, neutralizar alarmes.

Até que ponto ia a sua imunidade?
Pistone: Não podia cometer crimes de violência. Não podia usar uma arma para disparar contra alguém, nem bater em alguém. Mas havia crimes que podia cometer, como assaltos que não eram violentos. Não podia envolver-me na organização de crimes. São os bandidos que fazem isso.

Deve ser excitante cometer um crime.
Pistone: Não tem nada de excitante. Não está na minha natureza, enquanto agente da polícia, cometer crimes. Mas se for essa a única forma de recolher provas que permitam colocar gente na cadeia, então há certas coisas que consigo levar por diante.

Os criminosos certamente ganham multo mais dinheiro a cometer esses crimes do que o Joe enquanto funcionário público…
Pistone: Nunca me senti tentado a enveredar por aí. Nunca.

Há casos de outros agentes Infiltrados que se passaram para o lado de lá.
Pistone: Sim, clara. Se não somos capazes de nos manter concentrados e fiéis ao nosso compromisso, então é bem possível que resvalemos.

Até que ponto a Máfia é uma organização violenta?
Pistone: São capazes, por exemplo, de se matar uns aos outras.

Não lhe era permitido fazer Isso. Como é que conseguiu evitá-lo?
Pistone: Foi muito difícil. Foram-me dadas ordens para matar gente. Felizmente que os tipos que eu tinha de matar sabiam que iam ser mortos, pelo que, como dizemos aqui nos Estados Unidos, passamos para o limbo. Ou seja, esconderam-se.

Alguma vez matou alguém em serviço?
Pistone: Não. Não.

Que fez quando viu o indivíduo que deveria matar?
Pistone: O FBI retirou-o de circulação e escondeu-o. Fizeram com que parecesse que eu o tinha matado.

Naquela altura não havia telemóveis nem ‘e-mall’, Como é que avisava o FBI para apanhar o indivíduo?
Pistone: Cabines telefónicas. Era tudo feito através de cabines telefónicas. Isto porque em todo o lado havia cabines telefónicas. Andava sempre com trocos nos bolsos.

Por que razão recusou a vigilância?
Pistone: É sempre um problema. Os mauzões perguntam: “Por que razão estão a vigiar-nos? Quem é que está a atrair esta vigilância?” Além do mais, não é a vigilância que nos vai salvar a vida. Numa situação daquelas, a única pessoa que nos pode salvar somos nós próprios.

Como é que conseguiu guardar toda a informação que recolheu?
Pistone: A maior parte da informação estava na minha cabeça, Fui capaz de separar o que era importante do que não era. E, em relação ao que era importante, limitava-me a telefonar a alguém e a despejar a informação pelo telefone

Assistiu a homicídios. Alguma vez tentou ajudar alguém?
Pistone: Quem é que a Máfia mata? Eles só se matam entre eles, não matam cidadãos inocentes.

Não sentiu pena deles?
Pistone: Eles colocam-se nessa posição. Eu não.

Esteve quase a tornar-se um ‘Made Man’ (homem feito), um verdadeiro cabecilha da Máfia. Mas depois o FBI retirou-o de cena. Gostaria de se ter tornado um deles?
Pistone: Claro. Veja bem, eu estive seis anos infiltrado, só estive dois meses fora. Imagine o embarace da Máfia ao descobrir que tinha aceite, nas suas fileiras, um agente do FBI. Na minha opinião, foi ridículo terem travado a operação três meses antes de eu me tornar num verdadeiro oficial da Máfia.

Queria tornar-se um mafioso para humilhá-los?
Pistone: Claro. É um prazer sabermos que cumprimos uma missão com tanta eficácia que chegamos a ser propostos e aceites numa organização secreta.

Porque travaram a operação?
Pistone: Porque havia uma guerra no seio da família e havia muita gente a morrer. Também eu deveria ser morto.

Que mais teria conseguido obter se tivesse chegado a posição de ‘Made Man’?
Pistone: Isso ter-me-ia dado a possibilidade de me sentar ao lado de elementos de outras famílias. De me envolver com indivíduos de outras famílias, sem ter ninguém da família Bonanno de permeio. Poderia ter dito ao meu chefe, Sonny Black: “Sabes, vou fazer negócios com fulano e sicrano.” E isso não teria levantado qualquer problema. Se não ternos esse estatuto, é mais difícil fazermos negócios com gente de outra família.

Esteve lá dentro durante seis anos. Fez amizades?
Pistone: É impossível estarmos envolvidos numa operação, conhecermos pessoas, vê-las sete dias por semana, 365 dias por ano e não estabelecermos com elas uma espécie de amizade. Mas ternos de ter consciência do tipo de amizade que é. Ela deve-se, única e exclusivamente, ao ambiente em que estamos inseridos. Se eu não estivesse a trabalhar como infiltrado e não estivesse naquele meio, nunca me teria tornado amigo deles. E não me podia esquecer de que estava a lidar com ‘gangsters’, com assassinos capazes de matar pessoas do seu meio. Eles são capazes de matar os melhores amigos.

Foi padrinho de casamento de Benjamin Lefty Ruggiero, o mafioso interpretado por Al Pacino no filme ‘Donnie Brasco’. Como reagiu quando ele o convidou?
Pistone: Isso revelou que eu tinha obtido a confiança dele. Percebi que estava no bom caminho.

Depois de conquistar Lefty, tornou-se próximo de Sonny Black Napolitano. Pouco depois de a sua verdadeira identidade ter sido revelada, Lefty foi preso e Napolitano foi morto porque tinha confiado em si. Sente remorsos?
Pistone: Não estava lá para matar ninguém, mas sim para recolher provas que permitissem mete-los na cadeia. Eles é que escolheram aquela vida. Eu não escolhi a vida de ‘gangster’. Um ‘gangster’ só tem duas saídas possíveis: ou vai para a cadeia ou é morto.

Como é que eles reagiram quando descobriram que não era amigo deles mas sim um polícia?
Pistone: Quando a operação terminou, Lefty, em conversa com os advogados, manifestou um ódio profundo. Sonny Black disse para a namorada: “Ele nunca nos levou a fazer nada que não tivéssemos decidido fazer. Nunca nos induziu a cometer qualquer crime ou a fazer fosse o que fosse que não tivéssemos íntegro de fazer. Simplesmente era melhor do que nós. rt

Houve algum tipo de respeito?
Pistone: Da parte de Sonny? Sim.

Tem algum respeito por eles?
Pistone: Eles faziam aquilo em que acreditavam. Acreditavam naquela vida de ‘gangsters’. Quando descobriram que eu era um agente infiltrado, mantiveram-se fiéis as suas convicções. Sonny portou-se como um homem. Ele poderia ter ido a correr para o FBI e ter-se tornado um informador, coisa que não fez. Sabe o que foi que ele disse? “Vou tomar os meus remédios.” Lefty ia ser assassinado, mas o FBI apanhou-o mesmo a tempo. Passou 15 anos na cadeia, Nunca disse uma palavra. Só o deixaram sair porque . ” estava a morrer de cancro. Ele podia ter-se tornado informador e ter conseguido que lhe reduzissem a pena, mas nunca o fez. Respeito essa atitude.

Aquilo que está a descrever é o famoso código do silencio, uma coisa que o cinema e as séries de televisão glorificam. Até que ponto isso se verifica na verdadeira Máfia?
Pistone: A verdadeira Máfia não é tão romântica, Eles são ladrões. Eles são ‘gangsters’. Eles são assassinos. Frequentam bares e clubes sociais, mas não falam como Shakespeare.

Se alguém quebra o segredo, este código de silencio, é morto, não é verdade?
Pistone: Se alguém o quebra, sim. É a pena de morte.

Como é que ela se processa?
Pistone: Em geral, levam a pessoa para um sítio qualquer. Põem-na a vontade e depois matam-na. Alguns tipos optam pelo estrangulamento. Arranjam uma corda de piano e estrangulam o individuo.

Um mafioso deve viver com a perfeita noção de que a todo o momento pode ser morto ou preso. o que não é uma sensação muito agradável. Qual é o interesse desta gente na Máfia?
Pistone: Simplesmente não querem ter um emprego honesto. Não estão dispostos a acordar todos os dias de manhã e terem de ir para o mesmo emprego. Querem ganhar dinheiro ilegalmente. E querem o respeito que lhes é votado por pertencerem a uma organização secreta.

Por que razão escreveu este livro?
Pistone: Tinha de completar um trabalho inacabado. Quando escrevi o primeiro havia muita informação que eu não podia divulgar porque os julgamentos ainda estavam a decorrer. Praticamente tudo aquilo em que estive envolvido já terminou.

Há quem diga que o seu trabalho destruiu a Máfia. Ela já se reorganizou?
Pistone: Nunca conseguiremos erradicar o crime organizado. Haverá sempre Indivíduos que não querem trabalhar. Mas conseguimos neutralizá-los. Naquela altura era praticamente a Máfia que m ditava as regras da economia americana. Ela controlava totalmente todos os grandes sindicatos, os transportes, a construção e a indústria do vestuário. Controlava as lotas. Tinha, inclusivamente, poder para controlar políticos e para conseguir que fossem eleitos, para controlar juízes e conseguir que fossem eleitos. Tirámos-lhe esse poder ao afastarmos os cabecilhas.

Costuma ir a Mulberry Street?
Pistone: Claro, de vez em quando.

As pessoas ainda o conhecem?
Pistone: Sim. Dou sempre uma volta com uns tipos. Há cerca de dois meses apareceu-me um fulano a gritar:
“Então, Donnie, que raio fazes tu por aqui? Não achas que já causaste problemas suficientes?” Ao que respondi, “Obviamente que não, faltou-me meter-te a ti na cadeia.” Eles lembram-se, lembram-se.

O FBI deu-lhe uma medalha e 500 dólares como paga por seis anos da sua vida. Valeu a pena?
Pistone: Sim. Não fiz aquilo pelo dinheiro nem pela medalha, mas sim porque era a minha função. Acreditava naquilo que estava a fazer. A grande recompensa é saber que fiz um bom trabalho, que fiz uma coisa que foi benéfica para a sociedade e para o meu país. Para mim, é tão simples quanto isto.